Como será o futuro da música dentro do metaverso

Imagine que você está andando na rua com o seu celular na mão e a câmera ativada. A partir da tela, você enxerga na calçada uma escultura de arte digital construída com as referências daquele álbum

Por: Redação. Quinta-feira, 03 de Março de 2022.

Essa escultura é interativa: você pode ativá-la e, a partir daí, ter acesso a músicas do artista em questão, mini-jogos criados pela própria banda e um item de NFT para os fãs. Esse item, depois de comprado, poderá trazer ainda mais experiências virtuais ao comprador.

Essa é uma das experiências que serão possíveis a partir do ‘musicverse’, a mistura entre música e o metaverso. A tecnologia já ganhou a atenção de gigantes da indústria fonográfica tem entre seus entusiastas - e prováveis pioneiros - a PIXELYNX. Em parceria com a Globant, a empresa do Vale do Silício está criando uma plataforma digital que promete intensificar a relação entre artistas e fãs, usando a nova tecnologia.

Fundada por aficionados pelo futuro da indústria musical, a PIXELYNX irá lançar em abril a sua primeira versão desse mundo híbrido que conecta criadores e fãs. “O que nós estamos fazendo é uma intersecção entre música, games e blockchain. A ideia é que você possa descobrir o mundo virtual ao seu redor, destravando experiências musicais”, conta o CEO Inder Phull.

Para Phull, a plataforma fará mais do que mudar a forma como as pessoas consomem e se relacionam com a música. Será também uma oportunidade para os artistas e bandas monetizarem os seus trabalhos. Com as NFTs, e a partir da tecnologia de contratos inteligentes que esses tokens permitem, será possível, por exemplo, determinar a porcentagem de receita que irá para a gravadora e para os músicos.

“Então, sempre que esse NFT for monetizado, o artista será pago imediatamente. Será uma forma de monetização totalmente transparente. Essa é uma vantagem do blockchain”, diz Phull. Os NFTs, eles explica, têm a vantagem de poderem ser também negociados no mercado secundário, o que pode criar um ecossistema entre os fãs daquela banda. Entre os itens possíveis de serem criados pelos músicos, estão roupas virtuais e artefatos exclusivos. 

Além dos NFTs e do blockchain, o ‘musicverse’ terá ainda um outro pilar importante: a gamificação. Para Phull, o mercado de games tem características que podem ser transportadas para a música: a interatividade, o potencial de formação de comunidades e o fascínio que causam nos fãs. “A chave é desenhar mecanismos interessantes, jogos e tecnologia que permitam essa ligação entre os dois mundos”, afirma.

Mas será que teremos experiências tão imersivas nesse metaverso musical a ponto de abandonarmos os grandes shows e eventos presenciais? Nada disso. Pelo menos não para a PIXELYNX. O caminho, segundo ele, é integrar a novidade com as experiências atuais. “O contato físico sempre será  a experiência mais significativa que um fã poderá ter. Não acho que haja muitas dúvidas em relação a isso. Eu gosto de pensar que o ‘musicverse’ é uma nova tela para os artistas criarem e uma chance de eles construírem coisas que não seriam possíveis no mundo físico”.

Confira a entrevista completa que o CEO da PIXELYNX, Inder Phull, concedeu a Época NEGÓCIOS.

Como será essa nova experiência de consumo musical que o Pixelynx está construindo com o metaverso? Qual o papel dos games?
Nós sempre acreditamos que os games teriam um papel importante no futuro da indústria musical. Nós vemos muitas possibilidades em relação à interação, à formação de comunidades e ao fascínio que eles causam. Se você pensar na forma como a música é consumida, ela não mudou muito ao longo do tempo. A experiência continua semelhante - seja ouvindo uma música no vinil, no CD, no Spotify ou em outra plataforma de streaming. Nós sentimos que existia aí uma oportunidade de fazer a música se tornar mais interativa.O que nós estamos fazendo é uma intersecção entre a música, os games e o blockchain. Nosso primeiro produto será lançado em abril, em parceria com a Niantic [criadora do jogo de realidade aumentada Pokemon Go]. A ideia é que você possa descobrir o mundo ao seu redor, destravando experiências musicais. Esse será o primeiro recurso no mundo que oferece aos artistas a possibilidade de criar itens de realidade híbrida que podem ser descobertos e coletados por fãs.

Vocês já definiram quais bandas irão estrear esse metaverso?
Sim. Existe uma série de grupos e artistas que estão trabalhando conosco. Vamos anunciar a lista em breve. Teremos uma grande campanha para que os fãs descubram e coletem diferentes NFTs, que depois ainda poderão ser trabalhadas pelas bandas. Vamos lançar uma versão beta, mais restrita, em abril, e devemos a partir de maio abrir a plataforma para o público.

Muitas empresas têm investido em projetos para criação do metaverso, inclusive as big techs. Mas ainda não há uma definição de como será de fato esse ambiente da internet imersiva. O que você pode dizer sobre como será o metaverso da PIXELYNX?
Eu concordo com você. É um novo mundo, e ainda existem ideias diferentes sobre como ele será. Quando nós pensamos em metaverso, imaginamos um conjunto de tecnologias que irão convergir, como o blockchain e a web3, que trazem as criptomoedas e os NFTs. Os NFTs são essenciais, por que eles carregam a questão de propriedade. No nosso metaverso, os NFTs e as criptos têm um papel muito importante.

Eu tenho dúvidas em relação à existência de um único metaverso. Provavelmente, será uma combinação de múltiplos ambientes digitais. A Meta está construindo seu próprio mundo, a Roblox já tem o seu metaverso, e as definições de cada um mudam. Para nós é essencialmente uma rede que conecta diferentes plataformas, permitindo que as pessoas se engajem e se conectem umas com as outras para consumir conteúdo. A Pixelynx será uma dessas plataformas. Eentão eu vejo muito mais como uma conexão de vários ambientes do que um único mundo ou destino.

No caso da PIXELYNX, como as pessoas vão acessar esse mundo virtual?
No nosso caso, será possível acessar o metaverso musical diretamente pelo celular. Depois, o objetivo é lançar também as versões para desktop e games. No início, será  como um jogo mobile que traz essa proposta de explorar também o mundo real, com itens que você coleta e depois podem ser ativados e consumidos no celular ou desktop. Para nós esse é um exemplo simples de como o ecossistema do metaverso está sendo desenvolvido. Então quando um fã coleta um item musical ele poderá, no mundo real, ir a um show e destravá-lo. Aí ele poderá voltar para casa e começar a jogar no computador, laptop ou celular. Mas, claro, pretendemos desenvolver muito mais ainda em termos de integração e interação. Esse será só o primeiro passo: o celular e o desktop trabalhando juntos.

A criação do ‘musicverse’ está acontecendo em parceria com a Niantic, do Pokemon Go. Como a experiência de realidade aumentada do jogo tem ajudado vocês?
É incrível, porque a Niantic tem um software aberto que permite a criação desses universos de realidade aumentada. Isso é ótimo, porque sem eles nós não teríamos conseguido desenhar essa visão que eu descrevi aqui.

Como você enxerga o papel das NFTs nesse processo? É também uma forma de dar mais poder aos artistas?
Sim, e eu acho que funciona muito bem para os artistas e os fãs. Na perspectiva dos artistas, a ideia dos NFTs é interessante, porque eles podem, a partir de um contrato inteligente, determinar que, por exemplo, 60% daquele item pertence ao autor e 40% é da gravadora. Outra questão interessante é que esse NFT continua tendo valor no mercado secundário. Então, quando fãs compram uma NFT de um artista, eles podem fazer negociações entre si, criando um ecossistema entre eles de compra e venda desse token. E, mesmo no mercado secundário, toda vez que um NFT for vendido, o dono original daquela peça pode receber uma porcentagem. 

Outro lado dos NFTs é o seu potencial de criação. Se você analisar, o NFT é apenas um pedaço de código armazenado no blockchain. Você pode criar novos mecanismos gamificados para que o NFT evolua. Um artista pode lançar um NFT e programá-lo para que ele se transforme ou evolua depois de ser negociado por uma certa quantidade de vezes. São múltiplas  as camadas que podem fazer com que esse ativo seja monetizado pelos músicos, além de trazer formas novas de lidar com os direitos sobre aquela criação. Para além do Spotify e de outras plataformas, estamos fazendo com que a indústria da música se abra mais ainda. E isso é um desafio.

E como será essa relação de vocês com os artistas? Eles poderão buscá-los para criar essas experiências?
Sim, com certeza. Neste primeiro ano, vamos trabalhar de forma muito próxima com os artistas, para criar experiências que sejam mais relevantes para eles. Conforme avançamos para a próxima fase, a ideia é que possamos criar uma forma de uso aberta, disponível para todos os artistas. E aí eles poderão entrar na plataforma e configurar o que eles querem oferecer para os fãs.

Você acha que no futuro ainda fará sentido termos esses grandes concertos musicais que reúnem milhares de pessoas?
Nós nunca vamos replicar a experiência física por completo. Pelo menos com o que temos disponível de tecnologia hoje. Mas é importante dizer que nós, na Pixelynx, não estamos tentando replicar a realidade. Nós acreditamos que a oportunidade aqui é a de criar histórias e experiências que nunca seriam possíveis no mundo físico. A ideia não é tirar as pessoas dos shows e levar para o metaverso. Queremos levar a experiência virtual para os fãs, que poderão experimentar uma nova visão dos artistas.

Como funciona o labs da PIXELYNX? Que tipo de projetos vocês pretendem financiar?
Nós estamos dando suporte a startups que compartilham da nossa visão. Damos acesso a capital, acesso a especialistas em marketing, e dicas de gestão. Em um nível mais alto, ajudamos a pensar na melhor maneira de monetizar seus trabalhos através de todas essas plataformas. O labs tem como objetivo dar apoio ao futuro da música no metaverso. Queremos criar esse ecossistema de forma colaborativa.

E como você acha que serão as experiências musicais nesse mundo híbrido?
Você usou uma ótima palavra: ‘híbrido’. Eu acho que esse é o lugar para onde estamos caminhando. Os artistas querem continuar com os shows presenciais, porque é uma forma de se conectar com os fãs, é uma experiência única. Mas existe a possibilidade de criar uma interação entre físico e digital. A chave é desenhar mecanismos interessantes, jogos e tecnologia que permitam essa ligação entre os dois mundos.

E vocês conhecem a música brasileira? Acham que existe oportunidade de trabalharem com o mercado musical no Brasil?
Claro! Existem vários artistas, inclusive de música eletrônica, com os quais queremos muito trabalhar. Nós temos, inclusive, uma colaboração com alguns artistas brasileiros, mas ainda não podemos revelar. Mas estamos bem interessados pela música do país e também pelo mercado de games. O Brasil tem uma cultura forte de games. Nós adoraríamos criar mais parcerias por aí.

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